Particularmente,
esse texto é um de meus preferidos. Tava muito inspirada, e cheguei a ficar
emocionada. Escrever, pra mim, é uma relação visceral e de amor com as palavras.
Monólogo
das Quatro Estações
Sou a mãe
de todas as faces do tempo que move as inspirações e os sentimentos mais
intrínsecos da alma humana.
Sou
aquela que faz nascer a chuva, o pôr do sol, os ventos uivantes, a lua como
pérola da noite, o frio que gela os corações solitários, o hálito quente do
verão...
O verão,
meu filho mais alegre e intempestivo é assim...
Quente
como fogo de paixão, alegre como festa de criança, vermelho convidativo ao
laranja e amarelo, que dão tom ao seu maior sabor da tarde, o pôr do sol...
O verão
tá escrito nas telas do mundo, dos pintores e andarilhos modernos, que fogem da
figura humana para retratar o amor que a natureza lhes oferece com sua beleza
traduzida na estação.
Ele, o
verão, é muito extremo, e corre pelo mundo tambem em tempestades de fúria, de
sol escaldantes, de sedução de corpos, de noites insones, de folhas suadas, de
fome saciadas.
Os
amores do verão alcoliza a pele e entorpece a razão...
Então,
vem meu filho outono, tão precisado de acalanto, deixando suas lágrimas cairem
em folhas secas por tanto pranto,
que no
seu maior encanto deixa-se ir pelos ventos nem frios , nem quentes, apenas
ventos de outono.
O chão se
abre pra esse meu filho num tapete por vezes amarelo, outras marrom, outras nem
tão verdes.
O outono
é o que dá frutos colhidos e presenteados pela mãe terra, pela tia chuva, e
pelo pai sol...
Brinca
com suas muitas cores doces de uvas claras, rosas e rubis, suas mãos sujas de
farelo de trigo, seus restos de sementes deixadas pelo verão, seu cheiro
agridoce de frutas precoces.
O outono,
às vezes azedo deixa cair seus limões, limas, filhotes fartos nascidos em
árvores que alimentam os pássaros e banham as feiras transeuntes da terra.
O
outono traduz o gosto da terra mãe, que enchem seus frutos e alimentam as bocas
de caldos da terra doce, doce mãe...
Inverno,
frio filho meu!
Mas, que
estranhamente inóspito tu és!
Oferece
calor a alma dando-lhe inspiração dos poetas solitários, e fazendo a terra
rejeitar os pastos sem ter o que pastar.
Queima-se
a estação, a pele, o sorriso de vento frio que vem do norte, e faz correr pelas
montanhas os rebanhos de alpacas, ovelhas e corações valentes.
O calor
do meu filho frio é ornato de lenhas velhas deixadas pelo verão abrasador e
outono gentil.
O inverno
é estação que pede colo, deixa campos abertos a paisagens de brumas densas,
chuvas em orvalho, seca com mato queimado, egoísta ao impor ardência de
saudades nos olhos de quem se foi, de quem fica...
Volta-se
pra sí aquele que acata um inverno rude para reflexão pessoal.
Primavera,
querida. Salve seus lírios, suas singelas margaridas de pétalas únicas, suas
simpáticas azaléias,
girassóis
imponentes, e as hortências então...ternamente azuis.
De todas
as cores da primavera, a mais suave ela mesma.
Filha que
embeleza momentos mórbidos como um soneto de despedidas, que dita a sorte as
damas em festas, que perfuma
a pele e
os jardins, que dança Vivaldi pelas pétalas de flor nas sapatilhas de pontas
dos galhos dos ipês, sapucaias e espirradeiras.
Primavera,
de todas a estação da esperança em ver nascer tantas cores, promessas de
amores, receptiva a chuva, ao sol, é pura harmonia entre terra, ar, sol e
vento.
Pétalas
se rebelam das sementes, pólen roubados de seus adereços flores, pássaros em
roseiral, fruto e flor dando nome e voz
à esta filha da terra.
Estação
da esperança e alegria floreando a dor.
Mônica
Ribeiro
16/11/07
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