quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


Particularmente, esse texto é um de meus preferidos. Tava muito inspirada, e cheguei a ficar emocionada. Escrever, pra mim, é uma relação visceral e de amor com as palavras.


Monólogo das Quatro Estações


Sou a mãe de todas as faces do tempo que move as inspirações e os sentimentos mais intrínsecos da alma humana.
Sou aquela que faz nascer a chuva, o pôr do sol, os ventos uivantes, a lua como pérola da noite, o frio que gela os corações solitários, o hálito quente do verão...

O verão, meu filho mais alegre e intempestivo é assim...
Quente como fogo de paixão, alegre como festa de criança, vermelho convidativo ao laranja e amarelo, que dão tom ao seu maior sabor da tarde, o pôr do sol...
O verão tá escrito nas telas do mundo, dos pintores e andarilhos modernos, que fogem da figura humana para retratar o amor que a natureza lhes oferece com sua beleza traduzida na estação.
Ele, o verão, é muito extremo, e corre pelo mundo tambem em tempestades de fúria, de sol escaldantes, de sedução de corpos, de noites insones, de folhas suadas, de fome saciadas.
Os amores do verão alcoliza a pele e entorpece a razão...

Então, vem meu filho outono, tão precisado de acalanto, deixando suas lágrimas cairem em folhas secas por tanto pranto,
que no seu maior encanto deixa-se ir pelos ventos nem frios , nem quentes, apenas ventos de outono.
O chão se abre pra esse meu filho num tapete por vezes amarelo, outras marrom, outras nem tão verdes.
O outono é o que dá frutos colhidos e presenteados pela mãe terra, pela tia chuva, e pelo pai sol...
Brinca com suas muitas cores doces de uvas claras, rosas e rubis, suas mãos sujas de farelo de trigo, seus restos de sementes deixadas pelo verão, seu cheiro agridoce de frutas precoces.
O outono, às vezes azedo deixa cair seus limões, limas, filhotes fartos nascidos em árvores que alimentam os pássaros e banham as feiras transeuntes da terra.
O outono traduz o gosto da terra mãe, que enchem seus frutos e alimentam as bocas de caldos da terra doce, doce mãe...

Inverno, frio filho meu!
Mas, que estranhamente inóspito tu és!
Oferece calor a alma dando-lhe inspiração dos poetas solitários, e fazendo a terra rejeitar os pastos sem ter o que pastar.
Queima-se a estação, a pele, o sorriso de vento frio que vem do norte, e faz correr pelas montanhas os rebanhos de alpacas, ovelhas e corações valentes.
O calor do meu filho frio é ornato de lenhas velhas deixadas pelo verão abrasador e outono gentil.
O inverno é estação que pede colo, deixa campos abertos a paisagens de brumas densas, chuvas em orvalho, seca com mato queimado, egoísta ao impor ardência de saudades nos olhos de quem se foi, de quem fica...
Volta-se pra sí aquele que acata um inverno rude para reflexão pessoal.

Primavera, querida. Salve seus lírios, suas singelas margaridas de pétalas únicas, suas simpáticas azaléias,
girassóis imponentes, e as hortências então...ternamente azuis.
De todas as cores da primavera, a mais suave ela mesma.
Filha que embeleza momentos mórbidos como um soneto de despedidas, que dita a sorte as damas em festas, que perfuma
a pele e os jardins, que dança Vivaldi pelas pétalas de flor nas sapatilhas de pontas dos galhos dos ipês, sapucaias e espirradeiras.
Primavera, de todas a estação da esperança em ver nascer tantas cores, promessas de amores, receptiva a chuva, ao sol, é pura harmonia entre terra, ar, sol e vento.
Pétalas se rebelam das sementes, pólen roubados de seus adereços flores, pássaros em roseiral, fruto e flor  dando nome e voz à esta filha da terra.
Estação da esperança e alegria floreando a dor.


Mônica Ribeiro
16/11/07



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